J. M.CUNHA SANTOS
( BRASIL – MARANHÃO )
O jornalista e escritor Cunha Santos faleceu em um hospital de São Luís, no dia 20 de outubro DE 2021 justamente no Dia do Poeta.
Filho de Codó, cidade onde nasceu no dia 10 de novembro de 1952, Cunha Santos continua reconhecido como um dos mais importantes e expressivos autores contemporâneos do Maranhão.
Autor de “Meu Calendário em Pedaços” – seu primeiro livro; “O Esparadrapo de Março”, “A Madrugada dos Alcoólatras”, “Paquito, o Anjo Doido”, “Odisséia dos Pivetes”, “A voz do hospício” e “A comunidade rubra”, Cunha Santos – pouco antes de morrer – estava escrevendo mais dois livros: “Terceiro Testamento” e “Lockdown – A literatura da solidão”.
SUPLEMENTO CULTURAL & LITERÁRIO JP Guesa Errante. ANUÁRIO. São Luis (MA): n. 8. 2010.
Ex. biblioteca de Antonio Miranda
- Condenados
Eu respiro o que respira
o resto da humanidade rente
ao CLIMA de superlotação, retenho
gases, sumo, silente sacerdote
da celeste pira. É fogo!
Queimo o planeta e pago
despesas de horror
em podridão
- Minha máxima culpa
Eu puno ursos, pássaros, penso
peixes, planotestes, pago pedágio
do ar, piso na constelação,
fumo falências, faço fomes,
passo pleno pela dor das pestes,
irrito Deus, aguo a água, agito
os brônquios. Ó visão celeste
de um planeta que me cai
da mão!
- Explosão demográfica
Reviro o mar, visto animais,
calço seus coros e gesto o
grafo gastronômico, se cão
consumo, sem um corte,
a amplidão celeste, se céu
já não há mais a norte-sul, a
leste-oeste, na hora de comer/beber
cada bebê é uma multidão
- O lucro fácil
É couro, é carne, é cria,
espalho espécimes, suicido
a flora, sacrifico seres, serpentes
em cada rei. E reino, rico, repetindo
a estratosfera, estragando estranhos
bichos da atmosfera, esturricando
a terra e congelando o leste
Sou o dono da lei
- Conforto
Aqueço, esqueço, esfrio
aquiescente a terra emerge
enérgica sem energia uma fração
de segundos seguindo a mata
e mato, e queimo, querendo
quilogramas, desmato e mato
de novo a mata que em mim
não mata a solidão
- O urro da natureza
Filas frenéticas de filhos
ferindo a floresta, Amazônia
mau, solo sem solução incendeia
a selva, sauna o sêmen sacrifica
o saco sem fundo, suga os animais
e silva o silvo oxidando o
ócio objeto de uma natureza
que caiu pra trás
- Prostituição tecnológica
Dou-me devasso à devassidão
das divas defloradas
no meu carro híbrido navego
negro,, no meu sangue eólico, o
ético sistólico, o bicho milenar, a
fera industrial, o predador simbólico
que come carne, fruta, alma de gente
e energia solar
- Congressos do medo
Atomizo as atitudes, atiço as atas
das reuniões com óleo e nada feito,
emito mortes das turbinas, gero
geradores de outras emissões e
nada feito nada faço se fazer confunde
as lâmpadas acesas, as crianças presas
às vastas vistas que não vêem
as vastidões
- O poeta tenta dormir
Com calma como coisas de carbono
hidrato as peles postas na poluição e
empurro o impacto da redução
da malha nuclear agricultável
dos habitantes de um planeta seco
e miserável onde uns jantam os outros
e falta ao mundo o oxigênio respeitável
de um coração
- — Juízo final
Em Copenhague é noite, é noite
na varanda da galáxia e assam-se
sacis e sócios na sociedade do fogão,
no fogo eterno que se espalha de A a Z
o alfabeto da morte para, para
a multidão engasgada de mortos
e de covardes ainda mais mortos
que conversam sobre morte no Planeta
*
VEJA E LEIA outros poetas do MARANHÃO em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/maranhao.html
Página publicada em março de 2024
|